Comprei um Medidor de Potência e agora?
Comprei um medidor de potência. E agora?
Modelo da marca alemã SRM integrado ao pedivela
Gabriel Vargas/ Especial para o Bikemagazine
Fotos de divulgação
Fotos de divulgação
Se os monitores de frequência cardíaca foram a tecnologia dominante no treinamento de atletas de resistência durante quase 30 anos, o que vimos na última década foi a evolução e a popularização de outro aparato tecnológico: os medidores de potência.
Na verdade, a tecnologia não é nova – a pioneira marca alemã SRM criou e desenvolveu seus primeiros protótipos eletrônicos em 1988. Durante muito tempo, porém, a tecnologia era extremamente cara e inacessível, praticamente reservada apenas às pesquisas científicas e a um número restrito de atletas profissionais.
De certa forma, houve um tempo em que o treinamento baseado em potência era visto como algo exótico. Mas a introdução de novos modelos no mercado, a queda dos preços, o desenvolvimento de softwares de análise mais amigáveis e a difusão dos métodos de treinamento com potência fizeram com que essa ferramenta se tornasse algo tão comum hoje quanto um monitor de frequência cardíaca era há 15 ou 20 anos atrás.
Apesar do custo de uma unidade medidora de potência ainda ser alto, um ciclista amador comum pode ter em sua bike uma unidade GPS com altímetro barométrico pareada a um medidor de potência, um sensor de cadência e uma cinta cardíaca. É um registro quase total sobre o desempenho do ciclista, o que permite uma gama ampla e muito interessante de dados: velocidade, distância, potência, frequência cardíaca, cadência… mas esses dados são apenas números soltos se não forem bem analisados e interpretados.
Assim como já ouvi de muitos usuários de monitores cardíacos que o dispositivo serve para “ver se não estou forçando muito”, muitos usuários de medidores de potência que investiram pesado também disseram, de maneira muito vaga, que apenas sabem “quantos Watts estou gerando”. Mas, como veremos a seguir, a tecnologia pode ser muito melhor explorada.
Medidores ajudam na preparação, no treino e na competição
Utilizando seu medidor de potência
Os medidores de potência são muito úteis em três dos quatro principais momentos da preparação do esportista: a avaliação, o treinamento/estímulo e a competição. Apenas no momento do repouso/recuperação o monitor de frequência ainda é imbatível. Antes de explicar melhor o uso da potência em cada um destes momentos, preciso deixar claro que a potência NÃO substitui a frequência cardíaca.
Os medidores de potência são muito úteis em três dos quatro principais momentos da preparação do esportista: a avaliação, o treinamento/estímulo e a competição. Apenas no momento do repouso/recuperação o monitor de frequência ainda é imbatível. Antes de explicar melhor o uso da potência em cada um destes momentos, preciso deixar claro que a potência NÃO substitui a frequência cardíaca.
Um é complementar ao outro, e ao contrário do que alguns acreditam, o monitoramento da potência sozinha não permite um treinamento completo. De maneira simplificada, vamos esclarecer: medidores de potência medem de maneira imediata o trabalho que você está gerando. Independente da sua fadiga, da temperatura e da quantidade de café que você tomou, a potência exibida no LCD é a quantidade de energia que você está conseguindo transmitir para o asfalto.
A frequência cardíaca, por outro lado, não oscila em tempo real (ela sempre leva sempre alguns segundos para subir, estabilizar ou cair) e pode variar conforme sua condição (fadiga, temperatura ambiente etc), mas ela diz se aquele esforço é adequado ou não para o seu organismo naquele momento. Em um treinamento bem planejado e bem executado, isso é vital para a boa progressão do atleta.
Avaliando a potência
Se você está utilizando um medidor de potência, é fundamental saber analisar e avaliar os dados gerados. De nada serve um número se você não sabe o que ele representa, ou se essa noção é muito vaga. O ideal é realizar um teste controlado que simule ao máximo as condições que serão encontradas pelo ciclista nos treinos e nas provas. O teste de 30 minutos, sobre o qual falarei em uma próxima coluna, é simples e suficientemente eficaz, e talvez seja o que melhor represente as condições “reais”. Testes muitos curtos ou que lidam com valores máximos não são condizentes com o que a rotina do atleta representa na maior parte do tempo.
Se você está utilizando um medidor de potência, é fundamental saber analisar e avaliar os dados gerados. De nada serve um número se você não sabe o que ele representa, ou se essa noção é muito vaga. O ideal é realizar um teste controlado que simule ao máximo as condições que serão encontradas pelo ciclista nos treinos e nas provas. O teste de 30 minutos, sobre o qual falarei em uma próxima coluna, é simples e suficientemente eficaz, e talvez seja o que melhor represente as condições “reais”. Testes muitos curtos ou que lidam com valores máximos não são condizentes com o que a rotina do atleta representa na maior parte do tempo.
O objetivo das avaliações é encontrar os valores para vários aspectos: seu limiar funcional (estimativa do valor máximo de potência sustentável durante uma hora), as zonas de treinamento, seu perfil de fadiga em esforços explosivos (muito útil para sprinters e para quem quer vencer provas!), sua relação peso/potência, etc. Boas avaliações podem até ajudá-lo a definir melhor o seu bike fit e ajustar a posição mais aerodinâmica o possível. Ou, uma das possibilidades que eu acho mais interessantes, estimar com boa exatidão o tempo ou a velocidade com que um ciclista é capaz de subir uma longa serra, por exemplo, mesmo sem nunca ter pedalado antes naquele trecho.
A potência no planejamento e na execução do treinamento
Após uma boa avaliação, o próximo passo é dar o melhor uso possível aos dados encontrados. Dependendo dos objetivos do ciclista, o treinador irá estruturar um planejamento que contemple esforços em várias zonas de potência, com finalidades variadas: desenvolvimento de capacidades como resistência e força, exercícios que simulam situações de ataques e chegadas, elevação do limiar funcional e muitas outras possibilidades.
Após uma boa avaliação, o próximo passo é dar o melhor uso possível aos dados encontrados. Dependendo dos objetivos do ciclista, o treinador irá estruturar um planejamento que contemple esforços em várias zonas de potência, com finalidades variadas: desenvolvimento de capacidades como resistência e força, exercícios que simulam situações de ataques e chegadas, elevação do limiar funcional e muitas outras possibilidades.
A potência sempre será mais útil quando o treino envolver atingir um rendimento muito específico, seja maior ou menor. Se a preocupação maior no momento é controlar o esforço fisiológico do ciclista, então a frequência cardíaca volta a ser o mais importante. Por isso é comum que planilhas de treinamento indiquem tiros em Watts e recuperação em batimentos cardíacos por minuto (bpm), ou esforços em determinada faixa de potência, mas limitados por um valor específico em bpm.
Por meio de alguns softwares voltados para a análise do treinamento, todos os dados de uma pedalada poderão ser reunidos e convertidos em uma variedade de gráficos e estimativas que indicam, entre outros, a evolução em várias faixas de potência isoladas, a carga crônica acumulada com o treinamento, a intensidade dos exercícios e a capacidade de recuperação, etc. Em uma futura coluna falaremos mais sobre essas análises aprofundadas.
Medidor de potência: após a prova dados servem para comparar e ajudar treinamentos
Utilizando a medição de potência nas competições e eventos
Vez ou outra, vejo fotos de bikes de ciclistas profissionais antes de competições com um pedaço de fita isolante tampando a parte do display que exibe a potência (no caso de dispositivos em que a tela não é customizável, como os Power Control da SRM). Muito curioso: por que impedir a leitura de um dado tão importante, e ainda assim usar o medidor de potência?
Vez ou outra, vejo fotos de bikes de ciclistas profissionais antes de competições com um pedaço de fita isolante tampando a parte do display que exibe a potência (no caso de dispositivos em que a tela não é customizável, como os Power Control da SRM). Muito curioso: por que impedir a leitura de um dado tão importante, e ainda assim usar o medidor de potência?
Durante uma competição, o monitoramento da potência só é realmente útil em situações muito específicas. Em outras situações, ele pode até atrapalhar, por isso a fita isolante. Em uma prova de circuito no ciclismo ou de XCO no mountain bike, não há muito o que controlar: é necessário acompanhar os adversários, ou estar adiante deles, não importa o esforço necessário.
Se o atleta não consegue gerar a potência necessária para estar onde ele deve estar, simplesmente está fora da disputa. Por isso, ver a potência gerada pode ter um efeito psicológico indesejável, especialmente quando o ciclista está conseguindo entregar a performance necessária, mas bate o olho no LCD e vê um valor que ele sabe que não poderá manter por muito tempo. Mas a competição é exatamente sobre isso – superação. Nessa situação, os livros de treinamento me perdoem, é melhor acreditar na sua força do que vê-la representada em um número.
Por outro lado, há situações muito específicas em que o monitoramento da potência gerada é muito útil. No contrarrelógio ou em uma longa subida de montanha, por exemplo, o ciclista que sabe com antecedência qual a potência necessária para andar a uma determinada velocidade deverá ficar atento ao display de potência para manter-se na faixa alvo.
De qualquer maneira, após a prova, os dados registrados pelo dispositivo devem ser analisados e comparados com os números produzidos nos momentos de treinamento. Essa avaliação permite uma compreensão ainda mais ampla das possibilidades de rendimento do ciclista, e também ajudam a orientar os ajustes no planejamento para contemplar as áreas deficitárias, que podem ser o sprint, as subidas longas, a recuperação entre ataques etc…
Ainda não tenho meu medidor de potência. Realmente preciso de um?A minha filosofia de trabalho como treinador exige que essa questão seja respondida com certa sensibilidade e crítica. Se, por um lado, medidores de potência possibilitam um controle mais aprofundado das variáveis envolvidas no treinamento e também permitem elaborar testes e exercícios mais interessantes, por outro lado ele não é fundamental nem mesmo para quem compete em alto nível. Ainda acredito que é possível conduzir um bom treinamento apenas com o monitor cardíaco.
Vale lembrar que até pouco tempo atrás ainda existiam (e talvez ainda existam) ciclistas profissionais no circuito europeu que não utilizavam nada além de um relógio simples com cronômetro. Há quem sinta-se incomodado com o controle excessivo e prefira treinar apenas pelas “sensações”. Se um cliente prefere (ou apenas pode) assim, então o treinador deve adaptar sua metodologia da melhor forma possível.
O custo de dispositivos medidores de potência ainda é muito alto, em qualquer lugar do mundo. Claro, bons ciclistas entregam boas performances mesmo com baixo orçamento e isso precisa ser respeitado. Assim, cada um deve avaliar as suas reais necessidades e interesses. Talvez o mercado esteja dizendo que um verdadeiro ciclista precise ter isso ou aquilo, mas talvez um dispositivo caro e complexo como um medidor de potência simplesmente não faça sentido para o seu estilo.
Por fim, não acredite em quem diz que o medidor de potência é fundamental para competir ou para progredir. Como dito acima, um planejamento bem feito e executado junto a um atleta motivado está acima de qualquer equipamento. Mas, claro, a tecnologia auxilia a tornar tudo mais palpável, viável e mensurável. Assim, na prática, um medidor de potência bem utilizado vai SIM ter um impacto muito positivo no seu treinamento. Mas não é rigidamente fundamental.
SRM – Aferição unilateral na interface entre os braços do pedivela e as coroas. Muito preciso e com grande tradição no esporte, mas com custo alto, exige unidade display dedicada e manutenção difícil.
Garmin Vector – Aferição no pedal. Existem versões bilaterais, mais caras, e unilaterais, com custo menor. Conexão ANT+ e muito prático. O diferencial é a possibilidade de analisar as forças geradas nas variadas fases da pedalada.
PowerTap Power Hup – Aferição no cubo traseiro, portanto é unilateral. Tem bom custo, mas é inadequado para quem tem rodas diferentes para treinar e competir.
Stages: Aferição apenas em um dos braços do pedivela.
Há também outras marcas no mercado como Quarq e Rotor e outras novas estão chegando.
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